O fiasco de seu "encontro" com Taylor ainda lhe assombrava seis dias depois. As aulas já haviam começado, então seria mais difícil sair para encontrar qualquer pessoa no meio da semana como havia sido a tentativa anterior. Aliás, Cassie não esperava sair com alguém tão cedo. Começava a se conformar que para quem viveria cerca de 200 anos, era um tanto presunçoso querer um relacionamento aos 30.

Acordou pela manhã com as bicadas de uma ave desconhecida na janela de seu quarto. Ainda sonolenta a bruxa se levantou coçando os olhos. — Quem te mandou? — Perguntou retirando a carta da coruja que esperava no parapeito. Pegou um petisco de sua própria coruja, Bianca, e deu à ave que esperava ansiosa pela recompensa. Encheu-se de felicidade ao ver que Taylor havia enviado a carta, talvez fosse um pedido de desculpas por deixa-la plantada esperando duas horas, mas ao terminar de ler viu que não era bem o que imaginava. "Idiota." Ele sequer mencionou que sentia muito ou explicou o motivo de seu atraso. Ainda assim a bruxa resolveu que iria a sua segunda tentativa de encontro, dessa vez na sorveteria do Beco Diagonal.

No fim daquela tarde, Cassie se vestiu com um vestido vinho e desceu a escadaria, indo para Hogsmeade, onde desaparatou. Não usava muita maquiagem, não queria o impressionar depois daquele fiasco, mas fez questão de calçar um salto alto na tentativa - sabia que era falha - de manter-se mais ou menos da mesma altura que Taylor. Chegando na sorveteria, viu que não estava muito cheia e pode encontrar o loiro sentado próximo, nas mesas externas. "Mas desgraçado é realente lindo.", sorriu para si, caminhando de encontro ao grifinório.

— Taylor... — Não quis finalizar com "grifinório, sem filhos", imaginando que isso traria lembranças de alguns dias atrás quando armou-se disso para ofende-lo. — Pontual, que estranho. — Disse, levantando uma sobrancelha, hostil. Ainda estava magoada com o desencontro. Era como se tivesse recebido um "não", um fora; e isso nunca havia acontecido antes. Respirou fundo de olhos fechados, tentando controlar-se e não fazer daquela segunda tentativa outro completo desastre. — Quer dizer, — Pigarreou. — como soube que eu estaria em Hogwarts? — Finalizou, juntando todas as suas forças para dar-lhe um sorriso que fosse verdadeiro, mas a falta do pedido de desculpas na carta não a permitiu, então, permaneceu séria, olhando no fundo dos olhos do loiro.

Sorriu ao ouvir que o atraso foi devido a uma "situação excepcional", mas não se deu por satisfeita. Era o melhor que ele tinha a fazer? Não tinha desculpa melhor? Talvez ele só tivesse decidido ir de última hora e perdeu o horário. Queria uma explicação e ele a daria em se tivessem tempo suficiente juntos, esse não era o momento para insistir.

Era um homem engraçado e bem-humorado, ou pelo menos tentava, pode observar, mas em um instante a conversa ficou muito mais estranha do que deveria. "Descobri com alguns conhecidos em comum" soou mais como "sabia seu nome e saí investigando quem você era". Cassie levantou uma sobrancelha, intrigada, mas não disse nada. Para sua sorte - ou azar - ele não era o primeiro stalker psicopata na vida da docente; então, sabia como lidar com eles. Seguiu o homem para dentro do estabelecimento e serviu sua casquinha com uma única bola de sorvete de menta, era seu favorito. Procurava motivos tolos como "uma pessoa que come uma bola de sorvete tão grande não pode ser psicopata" para não enquadrar Taylor como perseguidore e antes que pudesse concluir seu pensamento, ele explicou que obteve mais informações sobre ela com Ryan, noivo de sua irmã mais velha. "Ele realmente perguntou sobre mim". A docente tentou esconder um sorriso  de canto atrás da casquinha quando levou-a à boca.

— O que mais sabe sobre mim, senhor perseguidor? — Perguntou, sorrindo, em tom de brincadeira. Sua ideia sobre Taylor estava mudando. Provavelmente ao fim daquele dia teria mais alguns adjetivos para adicionar à lista "Taylor, grifinório, sem filhos, divertido". — Acho que estou em desvantagem aqui... Você não disse muito sobre você naquele dia. — Disse, por fim, caminhando para uma mesa próxima, onde sentou-se e sinalizou com o queixo para ele ele se juntasse a ela.

Aura, sempre tão formal com estranhos, havia se encarregado de dar informações suficientes para que Taylor pudesse prosseguir descobrindo mais sobre Cassie. A família Beaumont era grande e famosa, - talvez famosa por ser grande - não seria muito difícil encontrar sua árvore genealógica em livros de história. Se os papéis fossem trocados, a bruxa sabia que teria muito mais dificuldade em encontra-lo, visto que Taylor ainda não havia lhe dado muitas informações sobre si, nem mesmo seu sobrenome. Ela precisaria pesquisar os alunos da grifinória nos anuários de alguns anos até encontra-lo, ou talvez pedir a sua sobrinha que procurasse os prêmios que ele disse ter ganhado para a grifinória para descobrir ao menos seu nome completo.

Taylor parecia, definitivamente, desconfortável com a pergunta da docente. Não gostava e falar sobre si, Cassie concluiu. Mas, de que outra forma ela poderia aprender mais sobre ele se não perguntando? Foi engraçado e até fofo ver ele se atrapalhando, nervoso, repetindo a mesma coisa; chegou a confundir seu próprio nome com o de algum irmão, ou seus pais haviam decidido nomear dois filhos igualmente? A docente não pode segurar um fraco riso. — Bom, pra falar a verdade, as vezes até eu me perco com tanta gente na família. — Lambeu seu sorvete e abriu um largo sorriso, tentando espantar o nervosismo do loiro. — Éramos oito irmãos ao todo... — Suspirou. Seu irmão gêmeo, Dylan, pai de Aura, havia falecido a anos, mas Cassie ainda sentia a presença dele toda vez que mergulhava. — Agora, sete. — Disse, tentando espantar a pontada de tristeza que atingiu seu peito. Não queria deixar isso estragar seu encontro. Olhando a expressão no rosto de Taylor, a ruiva quis contornar a situação. — Foi a muito tempo, não faz essa cara. — Sorriu. — Era meu irmão gêmeo, pai da Aura, sabe, a sobrinha que fez questão de nos apresentar. — Tentou refrescar sua memória em tom de acusação. — Não que eu esteja reclamando. — Acrescentou e lambeu seu sorvete mais uma vez olhando-o no fundo dos olhos.

Ela estava fazendo de novo, como sempre fez, era instintivo, por isso seus relacionamentos nunca deram muito certo. Nunca soube dizer se quando alguém a achava interessante era devido ao fato de ser que é, ou pela influência que sua voz, olhar e presença causa nas pessoas. Na adolescência considerava o fato de não ser completamente humana um dom, bastava encarar um garoto nos olhos e ele era seu; agora, adulta, era uma maldição. Quando sentia-se atraída por alguém, se controlava e segurava para não exercer sua influência sereiana sobre qualquer um. Quanto maior o desejo, mais difícil se controlar e, bem, naquele momento estava sendo quase impossível. — É... Hogwarts? — Para ela, falou normalmente, mas a voz que escapou de seus lábios foi como um canto que atraiu a atenção até mesmo de algumas pessoas nas mesas ao redor. Pigarreou, concentrando-se. — Sempre quis ser professora, gosto de ensinar. — Agora a voz estava normal e as pessoas, assim como Taylor, nas mesas pareceram sair do transe. Cassie respirou aliviada. Amava falar de seu trabalho. — Trabalhei com crianças, na Babit, em Hogsmeade, por um tempo antes de ser aceita em Hogwarts. E, como eu poderia deixar passar a oportunidade? É só a maior escola de magia do continente! — Orgulhava-se de seu trabalho, formação e escola, dava pra sentir em sua voz. — Mas você não me parece um dragonologista. — Disse em tom de brincadeira, sorrindo outra vez.

Não conhecia nenhum dragonologista além de Ryan, mas a imagem que a docente tinha gravada de qualquer que seguia a profissão era estereotipada. Homem alto, forte, cabelos oleosos, cicatrizes, pele malcuidada e odor forte. Taylor parecia seguir o padrão pelo menos nas duas priemeiras características da lista, o que era bom, mas as outras eram completamente opostas ao homem que se sentava a sua frente.

No fim, Taylor pareceu não perceber que esteve sob transe e continuou a conversa como se nada tivesse acontecido. Cassie agradeceu mentalmente por isso. Não queria perder tempo dizendo que era adotada e que não era completamente humana. — Ensino feitiços para todas as turmas a partir do quarto ano. — Respondeu, endireitando-se na cadeira. O sorvete havia acabado, agora a bruxa mordia a casquinha. — É, você tem algumas características. — Disse, rindo. Sabia que não deviam estar falando da mesma coisa, afinal, para Cassie, os adjetivos para dragonologistas não eram muito positivos. — Ah, e eu tenho o hino de Hogwarts tatuado nas costas. — Riu-se, imaginando que a história da tatuagem de dragão fosse brincadeira. "Menos." Repreendia-se mentalmente, talvez estivesse risonha demais e não queria parecer uma louca, mas a conversa a divertia.

A tarde estava sendo adorável, agradável. A imagem que Cassie tinha de Taylor estava mudando. Taylor, grifinório, sem filhos, divertido, família pequena, dragonologista. Talvez adicionasse um "orgulhoso" à lista pela falta de uma explicação por seu atraso noutro dia. Algo lhe dizia que até o fim da tarde seria cansativo ordenar todas as características observadas. — Me conta mais do seu trabalho. O que você faz lá, exatamente? — Estava mesmo curiosa. Treinar, tratar, cuidar, educar, não sabia como funcionava o Santuário dos Dragões, tampouco qual o trabalho de um dragonologista. Ocorreu-lhe que poderia ter feito essa pergunta a Ryan, noivo de Desiré, sua irmã, e pensou que mesmo se já soubesse a resposta ainda gostaria saber de Taylor. Era uma forma de dar continuidade à conversa de forma leve e aprender mais sobre o homem que ficava nervoso quando falava de si.

Após sua última mordida na casquinha, amassou um guardanapo na mão direita e olhou ao redor em busca de uma lixeira próxima. Não encontrando, deixou o papel sobre a mesa para lembrar de jogar fora antes de sair dali. Agora, Cassie tentava controlar suas risadas para não parecer forçada ou exagerada. Durante toda a conversa o olhar da docente alternava entre os olhos para os lábios do loiro, esperava que ele não percebesse, não conseguia resistir. "Orgulhoso, lindo, divertido." Sem perceber, continuou a anotar mentalmente as características do homem.

Sem mais nem menos Taylor levantou sua camisa até a altura do peito no meio da sorveteria e tudo que Cassie conseguiu ver foi seu abdômen e cicatrizes, ainda que pequenas, que lhe davam um certo charme. É, aos poucos ele estava se enquadrando dentro da caixa de dragonologistas criada pela ruiva. Por um instante, perdeu-se admirando seu corpo, correndo os olhos pelas cicatrizes finas enquanto ele falava algo sobre noruega, dorso cristado — seja lá o que fosse — e costelas. Quando virou-se de costas, Cassie viu a figura de um dragão planando inquieto no meio das costas do loiro.

A bruxa ia se levantar da cadeira para olhar a tatuagem de perto, mas Taylor abaixou a camisa tão subitamente quanto havia levantado. Ela se remexeu no lugar para disfarçar o movimento interrompido. A conversa seguiu e não havia como dizer se ele queria se mostrar para Cassie ou se realmente era louco e pensava aquilo. Quem, sendo são, pensaria que trabalhar com dragões é simples? São criaturas classificadas como "mata bruxos" pelo ministério.

Taylor era uma espécie de médico de dragões. Devia cuidar da saúde e alimentação destes para que pudessem ser mandados para os treinadores. Não conseguia entender a função da profissão "treinador de dragões" se são criaturas ditas impossíveis de treinar ou domesticar em qualquer livro sobre criaturas mágicas que a docente já leu. Talvez isso tivesse mudado, o decreto revisado, não sabia dizer. Vivendo fora do país por tanto tempo havia se desligado das notícias britânicas.

Aquilo era um convite pra outro encontro antes mesmo de finalizar o primeiro (ou segundo)? Para ir em seu trabalho? Cassie sorriu, não pode se conter. — Acho que podemos sim. — Inclinou seu corpo para a frente, seguindo o loiro, ainda distantes, porém mais próximos que antes. — Tenho certeza que teria visto se você não tivesse abaixado a camisa tão rápido. — Apontou para ele, sutilmente, com o queixo, uma desculpa para diminuir a distância entre os dois. A verdade é que, naquele momento, ela não estava muito interessada em santuário algum. O coração batia forte contra sua caixa torácica e ela sentia o que julgou ser como estar sob sua influência sereiana. Não tinha mais volta. Ele não parecia lerdo, perceberia onde a ruiva queria chegar. Para ser mais clara só se escrevesse "eu estou afim" em uma placa e colasse na testa.

Cassie não viu necessidade em falar nada a respeito do comentário. O que veio a seguir lhe roubou o ar, os sentidos, as palavras. Sentiu o toque dos lábios de Taylor, ainda frios do sorvete, — com gosto de chocolate — e fechou os olhos, entregando-se ao beijo. O toque da mão grande, mas leve, em seu rosto fez uma sensação de arrepio nascer atrás de sua orelha e se perder pela nuca. Se não estivesse tão perdida com o beijo a bruxa notaria que ele tinha mais uma característica das que julgava típicas para alguém que seguia a profissão: o cheiro forte. Gostoso, marcante e forte. Os lábios da docente se contraíam contra os do dragonologista, em um sorriso, enquanto se beijavam.

Quando finalmente se afastaram por alguns centímetros, ela se manteve debruçada sobre a mesa, ainda não era suficiente, queria mais. Seu olhar fixo nos olhos de Taylor, um sorriso instigante formou-se no canto de sua boca. Os lábios, antes pêssego, agora detinham um tom mais avermelhado devido ao atrito. Sabia que, desta vez, o homem em questão não havia sido forçado a cair em seus encantos. Sorriu mordiscando o lábio inferior, sua expressão facial incitava desejo. — Considere seu convite aceito. — Disse, encarando, agora, os lábios do loiro. Aproximou seus rostos e beijou-o novamente.

Não sabia dizer o que estava acontecendo. Loucura, desejo, o coração pulsava forte. Aparentemente Taylor queria dar um passeio pela Londres trouxa assim que saíssem da sorveteria. Era uma boa ideia, fazia tempo desde que a bruxa não passeava pela cidade e sentia falta. Acostumou-se a viver entre bruxos, mantendo contato quase nulo com o mundo não-mágico. Apesar de ser de uma família de sangue puro, tradicionalmente; nem ela e nem nenhuma de suas irmãs tinham preconceito com trouxas ou seres mágicos, prova disso é que tinham meio-criaturas e mestiços em sua árvore, ela própria era uma meio-sereiana e uma de suas irmãs havia herdado genes de uma veela que foi inserida à árvore em algum momento da história. Sendo uma família tão grande, não era de se estranhar que em algum momento houvesse miscigenação. — Sim, — Disse baixo, quase num sussurro, sem ar. — seria ótimo. Faz tempo que não visito Londres. — Finalizou, referindo-se à cidade trouxa, obviamente. Era verdade. Havia passado pela cidade apenas para chegar ao beco diagonal ou entrar no Ministério da Magia, pela entrada de visitantes, com Aura para o primeiro dia de seu estágio.

A ruiva afastou seu corpo alguns centímetros para trás, percebendo o leve incômodo que começava a surgir em suas costas por ficar debruçada sobre a mesa da sorveteria. — Então, — Começou outra vez meio receosa. Não queria parecer apressada, ou dar a entender que queria sair dali logo, mas o passeio de barco lhe tentava. Ela simplesmente adorava estar rodeada por água. — podemos ir? — Finalizou olhando nos olhos do loiro.

Tudo estava acontecendo rápido demais, ou de vagar demais, não sabia dizer. Havia algo diferente em Taylor. Diferente de todos os outros que já haviam passado pela vida da docente. Bem, o momento em que ela dizia ser uma meio-sereiana ainda não havia chegado - normalmente os homens fogem nessa parte - então ela não podia afirmar nada. Sentia-se esperançosa, mas insegura. Quando o loiro pediu que ela esperasse na mesa, imaginou que fosse para jogar os guardanapos fora e ficou sentada, mas olhando para o balcão viu que ele estava pagando a conta. Tudo bem que era só um sorvete, mas a Beaumont odiava quando faziam isso. Levantou-se para ir até ele, mas antes que pudesse entrar no estabelecimento o bruxo já voltava para ela. — Mas.. — Foi interrompida pelo loiro que desconversou antes mesmo dela dizer algo. Parecia saber que a bruxa começaria um discurso sobre feminismo.

Tudo aconteceu muito rápido. Taylor fez de um pote plástico que estava ali, um portal. "Será que ele sabe que criar portais sem consentimento do ministério é crime? Ou será que essa lei também mudou? Seria mais fácil desaparatar." Pensava, rindo da pergunta do homem. Com ele, iria pra onde quer que fosse. Mas por que estava se entregando assim? De corpos colados, segurando o pote plástico, ele fez uma contagem regressiva. No três desapareceram.

A docente odiava usar portais. Seus métodos mais comuns de viagem eram aparatação, quando com maiores; e rede de flu, quando precisava viajar acompanhada de menores. Só usava portais em último caso. A estranha sensação puxão no umbigo e torção no vácuo, sentiu como se ela e Taylor dividissem o mesmo corpo, por um momento, e aterrissou em algum lugar no meio do Hyde Park. — Por que o tom de surpresa? — Foi calada por um beijo rápido, não havia necessidade de resposta.

O loiro saiu na frente, guiando Cassie pelo parque desconhecido pela docente, os dedos entrelaçados. A chave de portal já havia desaparecido na grama do parque, devia ter voltado a seu lugar de origem, um mecanismo de defesa do feitiço para que trouxas não utilizem-nas. Caminhavam em direção ao rio que cortava o parque. A pulsação da ruiva aumentava mais e mais a cada passo em direção ao rio. Alguns anos antes, o fato de estar sob fortes emoções ou ter contato com água revelariam sua aparência sereiana, mas agora, adulta, tinha perfeito controle. Ainda assim, não deixava de ficar nervosa. Talvez fosse dizer pra ele logo de uma vez e esperar ele terminar o que nem tinham começado ainda. — Acho que... — Hesitou. Não sabia o que dizer. Barcos? Nhe. Pedalinhos? Sentia-se como uma adolescente em conflito. — Pedalinho? — Devolveu a pergunta, deixando claro sua preferência. Não sabia dizer o que Taylor preferia, mas ele provavelmente tinha o mesmo pensamento que ela, a segunda opção era algo mais esperado pra um encontro.

Com ajuda do maior, Cassie subiu no pedalinho em forma de cisne que estava parado à margem do rio. "Que engraçado." Era como seu pai dizia: os trouxas são bons inventores porque não tem a magia. Era divertido, engraçado, ainda que útil e romântico.

Havia alguns trouxas, que pareciam ter a mesma ideia de encontro que eles, passeando pelo rio em pedalinhos. Taylor, que guiava, tomou uma certa distância para que pudessem ter mais intimidade, imaginou a ruiva. Sentiu as gotículas de água fria tocarem sua pele e quis pular no rio. Seria considerada louca se o fizesse? Sorriu. Os corpos mais próximos, o loiro, aparentemente contra vontade, iniciou a conversa. E ali estava o seu pedido de desculpas. Estava mais pra uma explicação do que aconteceu no dia em que chegou atrasado em seu encontro. Disse ter se perdido com o horário porque estava abobado com o fato de Cassie te-lo convidado para sair. A ruiva sorria, contente com a explicação. Ele usava uma máscara de durão, dragonologista, mas no fim era um fofo. — Então foi isso? — Disse mais para si do que para o homem. Era uma pergunta retórica, lógico. — É, perdão se te ofendi aquele dia. — Disse baixinho. Havia se arrependido no momento da ofensa, mas já era tarde, não tinha como voltar atrás. — Eu estava fora de mim, bêbada, me sentindo idiota porque achei que você tinha me dado um bolo. — Explicou meio envergonhada.

O pedalinho se deslocava lentamente sobre a superfície da água e Cassie mal percebia. Estava perdida nos olhos do homem ao seu lado. — Isso que estou captando na sua voz é ciúme, senhor dragonologista? — Brincou. Era, definitivamente, ciúme. — Do Chris? — Perguntou incrédula, apesar de saber que ele não conhecia Chris. — Ele é um amigo que eu não o via a anos. — Explicou. — Me levou pra casa aquele dia porque eu, — Encostou a cabeça no ombro de Taylor para esconder o rosto. — que vergonha, não tinha condições de ir sozinha. — Finalizou. Fez questão de explicar pois, em papéis trocados, ela gostaria que ele explicasse a situação. Devia ter sido horrível para ele achar que estava chegando para um encontro na hora certa e se deparar com aquela cena. A mulher que ia encontrar, bêbada, risonha, feliz, escodando-se em outro homem.

Estava tudo bom demais pra ser verdade. Cassie e Taylor cada vez mais próximos, ainda que fosse o primeiro encontro. Normalmente ela deixaria rolar um pouco mais antes de falar sobre suas origens na esperança de que, criando um vínculo com a pessoa, ela não fugiria. Até o momento esse plano sempre falhou. Acontece que a comunidade bruxa foi e é muito preconceituosa com o que é diferente. Seja nascido-trouxa, seja seres mágicos, seja trouxas, o que for. Se for diferente do "normal", é repudiado pela maioria. Com Taylor seria diferente? Tão próximos em poucas horas de convivência, Cassie resolveu esclarecer. Se fosse ser chutada, que fosse dentro d'água. — Já que estamos nos abrindo, tem uma coisa que quero te contar. — Forçou um sorriso sem dentes, ainda escorando sua cabeça no ombro do loiro.

O toque do abraço de Taylor era quente, gostoso, confortável. Cassie suspirou e aconchegou-se ali, antes de falar qualquer coisa. Queria aproveitar o momento mais um pouco, prolonga-lo, gravar em sua mente e não esquecer. Talvez tudo acabasse na próxima vez que abrisse a boca e, naquele momento, isso era a coisa que a docente menos desejava no mundo, que aquilo - fosse o que fosse - acabasse. — Na verdade eu sou casada e tenho dois filhos. — Disse séria, em sua melhor atuação. Talvez se desse uma notícia ruim primeiro, a segunda perdesse o efeito. Após alguns segundos de aflição, prendendo o riso para sustentar a mentira deslavada, não resistiu e deixou escapar uma risada leve que ecoou sobre o rio e logo desapareceu, voltando ao silêncio.

— O que aconteceu na sorveteria — Suspirou, ainda deitada no ombro do loiro. Não queria olhar em seu olho. — Foi por um segundo, sei que você percebeu, não foi impressão sua. — Disse com muito esforço. Fez-se silêncio novamente, ambos pareciam pensar. Cassie endireitou-se no banco, afastando-se de Taylor. Agora olhava no fundo de seus olhos azuis. — É que não sou completamente humana. — Pensou no quão estranha aquela frase podia parecer. Não é completamente humana, então o que? — Sou meio-sereiana. — Finalizou, ainda perdida no olhar do homem. Depois de um longo suspiro voltou a falar. — Essa é a hora que você me deixa aqui, vai pra casa e finge que não nos conhecemos. — Sugeriu, sustentando um sorriso curto, sem graça e forçado no s lábios. Era o que estava acostumada. O que sempre acontecia toda vez em que se abria para algum interesse romântico, seja homem ou mulher. Disfarçavam o preconceito no medo de serem "hipnotizados" ou obrigados a fazer qualquer coisa devido a sugestões da ruiva.